sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Chamaria de meu...



Falo de coisas que só eu entendo.
Verde, minha cor preferida.
E só eu sinto.
Só eu sinto o verde, o que eu não conheço.
O verde misturado de um marrom listrado, cheio d'água.
Que às vezes chora...


E estas palavras? sem sentido, sem fim, sem rumo, sem nexo...
Sem olhos, sem leitura, sem suspiros, sem presença, nem ausência.
Sem o nada, porque nem nada tem.
É indiferente.
Não para mim!

Tudo é pouco demais...
Quiçá meia face, congelada, umas notas musicais e páginas avulsas de um livro qualquer...
Ou a fumaça de um cigarro que nunca é fumado...
E eu acabo com a ponta das minhas unhas
E me congelo com o gelo do reflexo do sol...
E das pernas despidas
Junto ao cabelo bagunçado
Preso num olhar desolado
E na boca avermelhada...
De alguém que nem cheiro tem
Nem timbre de voz
Nada... E tudo.
Mas tudo é pouco demais.
É quase nada. Nem nada é... E só eu sei.

sábado, 1 de setembro de 2012

Tout peut s'oublier


Está provado e lacrado a mil estrofes de uma única frase
Não há, não houve, não haverá
E me debato no não até que a evidência de uma esperança apareça
Há anos indo por um caminho torpe e lá na frente um nada cheio de amor e de tempestades
E tudo o que foi ainda é
E não acabarão nunca com as rugas, com o amor, com a distância, com o sexo sem nexo
E com as pinceladas de sacanagem entre dois olhares que nunca se vêem
Sabemos dos amores escondidos, dos amores tempestades, dos amores impossíveis
Dos amores que nunca se encontram, daqueles platônicos, entre alunos e professores
Dos amores gays, trans, heteros, bissexuais, trissexuais e dos amores a três, a cinco...
Sabemos de todos os amores que se quebraram e que se uniram, mas não sabemos do nosso.
Sabemos das lágrimas deixadas nos cantos das calçadas, e por quê?
E dos sinais de tudo aquilo que não é, e que deixa de ser.
Que sentido traz?
É lindo, que mais?
Passa, e leva-se a vida como se não houvesse nada.



terça-feira, 7 de agosto de 2012

Poem...

Minhas mãos cheias de nada embrulharam numa caixa avermelhada todas as lembranças.
Seu rosto, com um sorriso mais sincero que outrora, forma a paisagem e o retrato de um sonho de menina...
O que escrevi continua... E o que escrevo hoje é eterno, porque é simples.
É tão simples que precisa ser segredo. Só uma criança, pura e simples é que pode entender.
Um delicioso segredo que me abraça todos os dias, e me pega de surpresa, e me tira um suspiro...
Como se fosse uma pessoa. Mas não é. Não pode ser. É quase.
É um incenso, é um cheiro, o timbre trêmulo e tímido da voz que confessa as primeiras palavras de amor. São as letras, algumas palavras sem nexo, é um coração acelerando, é uma notícia de longe, muito longe. Do céu, lá das nuvens. É uma música. São várias.
Sou eu mesma, no espelho, serrando os olhos e a boca, engolindo na saliva as lembranças da caixa avermelhada, que eu guardo com afeto.





quarta-feira, 2 de maio de 2012

O grito.

Até quando eu vou me esconder dentro de mim?
Existe uma barreira que abafa e absorve todo o meu grito e o impede de chegar do outro lado do mundo
Sentimentalismo barato?
E o muro vai trincando...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Revolta. Re, volta.


Regina foi embora e não deixou trapo de sua saia nem verbo do seu canto e foi pro canto.
Vira e mexe ela assopra no ouvido um sussurro de saudades...
E vive-se incansávelmente de forma mecânica, e o coração desprende do músculo e sai a se esvaziar dos sonhos, das vontades, dos desejos e anseios, das esperanças, das letras rabiscadas nos cadernos, dos lábios que não se tocam mais...
Cuspo desprazer, na ignorância do meu olhar. Choro minha culpa.
Ah, estou farta dessa briga de apelos, que pelos meios se questiona os fins.
Meu espírito o sabe, ignorante como é, o que sabe é pouco.
Mas ela vai por lá, a cantarolar seus desafios, disfarçando o medo atrás da porta do seu quarto, quando ninguém a vê.
Porque, entendo eu, quando lhe miram os olhos, seu próprio dom vira alvo.
Então ela dança, como dança sua língua no paladar de cada nota, para que não lhe atinjam com pedras nem flechas. Para que a perfeição venha a iludir a platéia, como se ilude uma música de amor e felicidade por trás de sentimentos não dignos de musicais.